A Prática Mediúnica – O Terapeuta Espiritual
Para efeito de informação, daremos alguns detalhes importantes observados durante nossa participação prolongada na prática mediúnica, onde assimilamos uma série de instruções transmitidas pelos Mentores espirituais para manter-se um comportamento salutar na convivência com os Espíritos sofredores e os que fazem sofrer, denominados obsessores.

O terapeuta espiritual, também chamado doutrinador, dialogador ou esclarecedor, deve adquirir o hábito de conversar com o comunicante num tom de voz natural, de forma coloquial, sem a preocupação de se fazer ouvir por todos os componentes encarnados do grupo mediúnico.
Nunca esquecer que está lidando com uma pessoa como outra qualquer, somente que não possui mais um corpo carnal, possuindo reações psicológicas similares às daqueles que ainda estão encarnados, precisando, portanto, naquele momento, de atenção especial. É quando não se deve prescindir de transmitir-lhe compreensão e otimismo para a superação das dificuldades por que passa na transição pela sepultura
Conveniente o terapeuta de desencarnados pronunciar as palavras com timbre delicado para o envolvimento vibracional ao comunicante, não esquecendo da austeridade sem autoritarismo radical nas ocasiões do atendimento aos Espíritos malévolos e impertinentes da erraticidade inferior.
Evitar explanações doutrinárias em tom discursivo e, sobretudo, não fazer críticas ostensivas ou veladas pelo estado de sofrimento apresentado pela entidade que está sendo atendida.
Atuar de preferência com o sentimento de bondade, sem palavras excessivas. Deixar o comunicante externar-se para identificar o centro do problema, antes de tomar o controle da comunicação a fim de ajudar o suplicante, esclarecendo-o corretamente.
Não se preocupar em identificar quem é a personalidade atendida, pois o trabalho de enfermagem espiritual tem por base a caridade anônima. Desnecessário explicar-lhe a razão do sofrimento atual, trazendo à baila o comportamento incorreto que vivenciou na existência física, porque semelhante atitude tem efeito semelhante a um ácido a queimar as fibras íntimas da criatura sofredora.
Quanto menos informações forem dadas melhor, inclusive não se utilizando da terminologia espírita, na maioria dos casos desconhecida do comunicante, nem tampouco insistir na sugestão para que ele adote postura oracional, pois quem está experimentando sensações desesperadoras não tem a mínima condição de entender ou assimilar conceitos e conselhos de que nunca ouviu falar.
O terapeuta espiritual deve ter sempre em mente que a finalidade principal do fenômeno mediúnico é o contato do Espírito sofredor com o fluido animalizado do médium para que se dê o choque anímico – expressão de Manoel Philomeno de Miranda – beneficiando a entidade sofredora de múltiplas maneiras
Allan Kardec utilizou o termo fluído animal, porque na ligação perispiritual do comunicante com o médium para que se processe a psicofonia, acontece uma transferência de elevada carga de energias animalizadas que, liberadas pelo médium e absorvidas pelo desencarnado, produz-lhe um choque que estimula o seu despertar para uma realidade nova de que ainda não se deu conta.
Isto se torna necessário porque na desencarnação o ser inteligente leva consigo inúmeras impressões físicas e mentais que permanecem, às vezes por largo tempo, em seu campo perispiritual depois da morte biológica. Daí o conceito doutrinário de que morrer definitivamente é ter consciência e familiaridade com o mundo que passa a habitar.
Por isso, o terapeuta espiritual, como instrumento do esclarecimento e da consolação que é, deve ser muito cauteloso no momento de revelar ao Espírito sob seus cuidados a condição desencarnado quando a desconhece. Precipitar-lhe o conhecimento da morte biológica pode causar-lhe um grande trauma, desarmonizador e de consequências imprevisíveis para o comunicante, com reflexos no médium que lhe serve de instrumento.
Consideremos alguém que teve morte repentina decorrente de uma crise cardíaca, sem nenhum conhecimento da vida espiritual, acordando num ambulatório médico e sendo atendido por alguém que lhe diz, de chofre: “Você já morreu”. Naturalmente a reação imediata é a da descrença, com uma resposta de pronto. “Como pode isto acontecer; eu estou vivo e dizem-me que já morri.”
Caso o doutrinador persista na ideia de convencer o Espírito, poderá desencadear nele o medo, com risco de evoluir para uma situação de pânico, não resultando da revelação inoportuna nada de positivo para o bem-estar da entidade sofredora. Neste particular a função do doutrinador é de efeito preparatório, deixando a cargo dos benfeitores espirituais a escolha do momento apropriado para fazer com que o desencarnado tome conhecimento da sua nova realidade.
No diálogo com os Espíritos empedernidos no mal, a técnica da doutrinação também exige cuidados especiais. Essas entidades sabem do estado em que se encontram e agem intencionalmente para perturbar o desenrolar da programação previamente estabelecida pelos Instrutores Espirituais. Uma pergunta se impõe de imediato: “Por que razão permitem os mentores espirituais que se comuniquem, parecendo, às vezes, de forma inoportuna?” Simplesmente, para aprendermos as lições decorrentes dessas aparentes “inconveniências” e, ao mesmo tempo, neutralizar a influência malfazeja dessas entidades sobre os encarnados. Durante o choque anímico esses irmãos infelizes perdem parte dessa energética agressiva que, antes, descarregavam nos seus desafetos.
O doutrinador deve precaver-se, a fim de não se deixar envolver pela tática usual desses espíritos, qual seja a de provocar discussão com o intuito de roubar o tempo disponível das atividades de socorro emergencial, e ao mesmo tempo perturbar o ambiente mediúnico por meio de irradiações enfermiças que a todos irritam, provocando mal-estar generalizado.
O tratamento ideal no relacionamento com esse visitante desagradável é o da amabilidade, mantendo-se a ascendência moral através do vocabulário apropriado, demonstrando não estar atemorizado com as ameaças ostensivas, não se deixando contaminar com a violência do linguajar vulgar e desafiador, e sobretudo manter confiança irrestrita na ação dos Benfeitores Espirituais. Lembrar sempre de que não se deve insistir com argumentos para fazê-lo desistir dos seus propósitos. Durante o tempo em que se encontra ligado ao médium adestrado, repetimos: o comunicante agressivo está perdendo força.
No trabalho da terapia espiritual, o encarregado dessa tarefa deve estar conscientizado da grave responsabilidade que assume não somente naquilo que diz respeito aos desencarnados, mas, também na questão dos danos físicos, emocionais e psíquicos que pode causar ao médium quando o atendimento não é feito de forma correta, com qualidade.
Outra ocorrência que deve ser evitada a todo custo é a do doutrinador tocar no médium em transe, no transcorrer da comunicação. Este é um hábito inconveniente, não somente no sentido ético como estético, que além de promover no medianeiro irritação extremamente desagradável, pode danificar-lhe a aparelhagem mediúnica e nervosa. Em situações específicas pode causar-lhe dores insuportáveis.
A nenhum pretexto deve ser o médium seguro pelo doutrinador, pois não é a força física, e sim a psíquica, que atua efetivamente para conter os impulsos descontrolados da entidade comunicante, refletidos no comportamento do médium.
Finalmente, em casos dessa natureza, o terapeuta espiritual, depois do atendimento ao sofredor, deve transferir de imediato sua atenção para o instrumento mediúnico. Não raro o sensitivo, para se reajustar na roupagem carnal depois do estado de transe, necessita de transfusão de energias por meio dos passes magnéticos.
José Ferraz / Março 2018
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