Escolhos à mediunidade
No livro Tramas do Destino, pela psicografia de Divaldo Franco, Manoel Philomeno de Miranda nos traz importantes considerações acerca da Mediunidade, que merecem atenção dos médiuns, a saber:
Capítulo 17 - Escolhos à mediunidade
A reencarnação, em si mesma, constitui misericórdia do Senhor, que não deseja a morte do pecador, mas a sua redenção. Em consequência, todas as faculdades de que o homem se encontra investido são talentos que lhe cabe multiplicar, valorizando-os pelo bom uso que lhes dá. Exigem cuidados, educação e disciplina, mediante cujo exercício mais se aprimoram. Impõem zelo com que sejam resguardadas da insensatez que os perturba, quando não os descontrola e inutiliza.
Nesse sentido, a mediunidade, que é uma faculdade parapsíquica, graças às suas sutis teceduras nos mecanismos do espírito, por meio do perispírito que a exterioriza pelo corpo somático e mediante o qual recebe as respostas vibratórias, mais severas responsabilidades confere ao usuário, impondo-lhe maior soma de vigilância.
Padecendo gravames e sujeita a escolhos sutis, que se transformam em penosos obstáculos, a mediunidade é ponte preciosa de serviço entre os dois mundos. Incompreendida pela maioria dos usufrutuários, padece um sem-número de conjunturas e experimenta aguerrido combate de um como do outro lado da vida.
Para exercê-la com nobreza é necessário escolher o caminho da abnegação, a via redentora, abraçado à caridade e ao amor, iluminado por dentro pela paciência e pela tranquilidade, a fim de não se deter na ascese do ministério ou confundi-la nas sombras com que se perturba e infelicita.
Sua correta condução propicia inefáveis alegrias, produzindo emoções transcendentes que visitam a alma em permanente musicalidade de harmonia. Por meio desse esforço, dilatam-se os registros que põem o médium em contato com as vibrações dulçorosas do Mundo da Verdade e franqueiam-lhe os portais do infinito por onde se adentra, estuante, restaurando as energias combalidas e alertando-o com preciosas forças, a fim de não estacionar nem recuar.
Relegada ao abandono, favorece a parasitose psíquica de imprevisíveis resultados, que dão margem a processos obsessivos de grande porte, gerando perturbação e desdita em volta dos passos.
Utilizada com leviandade, converte-se em instrumento dúplice, de que se utilizam os Espíritos bons e maus, conforme a direção que lhe aplique o médium e segundo as suas inclinações, desejos e paixões acalentados interiormente.
Asseverou Allan Kardec que:
"Entre os escolhos que apresenta a prática do Espiritismo, cumpre se coloque na primeira linha a obsessão, isto é, domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar."
"Entre os escolhos que apresenta a prática do Espiritismo, cumpre se coloque na primeira linha a obsessão, isto é, domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar."
Bem se depreende do texto, ao referir-se à “prática do Espiritismo”, que o Codificador alerta sobre a aplicação da mediunidade, porquanto, decorrendo seu ministério em clima de sintonia, sempre se vincula aos Espíritos com os quais o homem se compraz conviver psiquicamente.
Como os inferiores são mais comuns no intercâmbio com os homens, por invigilância destes, eles lhes compartilham a vida, produzindo constrangimentos obsessivos por ignorância, e, quando são maus, impondo-os por desforço, inveja, vaidade, etc. Os antídotos, porém, contra tal escolho como de quaisquer outros são o conhecimento, o estudo correto e a salutar vivência do Espiritismo.
Além desse penoso gravame — a obsessão imposta pelo desencarnado diretamente —, outros há inspirados pelos Espíritos imperfeitos: o acionar das paixões inferiores que cada ser conduz consigo, aguilhoando desejos desenfreados de qualquer nomenclatura; o arrojar pessoas inescrupulosas sobre ou contra o portador das forças mediúnicas — o mesmo ocorre em relação aos indivíduos que se esforçam por preservar suas faculdades morais, que então experimentam o cerco nefasto, que lhes é imposto pelas mentes atormentadas da Erraticidade —, as facilidades de toda natureza, desde a bajulação mentirosa às incursões mais atrozes, no que diz respeito aos deveres assumidos.
Noutro sentido, os escolhos residem no próprio médium, invariavelmente um Espírito conduzindo pesados ônus do pretérito, que lhe cumpre resgatar a sacrifício e a extenuante esforço liberativo.
Aquinhoado com as percepções que lhe atestam a sobrevivência, deixa-se, invigilante, embair pela presunção e derrapar na vaidade, atribuindo-se dons excepcionais, valores que sabe não possuir, mas finge deter, como se os Espíritos se lhe dependessem, atendendo-o a seu talante.
Logo, porém, sucumbe, manietado pela própria falácia e perde o contato com as entidades respeitáveis, mantendo as vinculações com aqueles que lhe são afins. Passa, dessa forma, a experimentar o insucesso nos empreendimentos espirituais e, quando tal ocorre, compromete-se pela argumentação mentirosa ou recorrendo à fraude indesculpável, a fim de manter uma posição de relevo enganoso.
A vaidade em qualquer situação é sempre reprovável. No ministério mediúnico, além de condenável, transforma-se em tóxico letal que destrói, de início, quem lhe dedica culto de subserviência. O exemplo da humildade típica prossegue, sendo Jesus o excelso Construtor da Terra.
O salmista David, no seu canto número 119, versículo 165, estabelecia que: “Muita paz têm os que amam a tua lei e para eles não há tropeços”, e a Lei de Deus é a do serviço ao próximo com humildade pura e simples.
A ambição argentária constitui outro difícil escolho para os “chamados do Senhor” ao campo da mediunidade. Isto porque, como medida preventiva a benefício dos próprios médiuns, com raras exceções, são eles situados em grupos familiares que lutam pela própria sobrevivência, a fim de que se exercitem desde cedo nas austeras disciplinas da escassez e da necessidade, para superarem futuras conjunturas em que se deverão movimentar com facilidade e honradez.
Na convivência com uma família difícil, com irmãos-problemas, com a pobreza, acostumam-se de início ao silêncio e à renúncia, aprendendo paciência e adaptando-se ao clima das reclamações, das dificuldades com que defrontarão na família dos homens, quando convocados ao labor da caridade cristã.
O dinheiro, com que os seus possuidores transitórios supõem conseguir tudo que lhes apraz, facilmente perturba quantos se não armam de simplicidade e fé para o desempenho dos seus mandatos morais, sociais, profissionais e espirituais... Podendo acelerar o progresso e produzir felicidade, o dinheiro, infelizmente, em muitos casos, tem contribuído para a desdita humana... Habilmente seduz, disfarçado com destreza pelos que o manipulam e conhecem as técnicas soezes de que ele é capaz para vencer resistências.
Precatem-se os médiuns contra “a indústria dos presentes”, isto é, do artifício da doação de mimos e regalos com que são brindados, a fim de que não sejam convidados à retribuição, mediante os recursos cuja finalidade é bem outra e dos quais se fazem mordomos, sendo chamados posteriormente a contas... O Senhor provê dos indispensáveis valores aqueles que O servem. Se o clima em que o trabalhador irá respirar deve ser o do problema e da dificuldade, evidentemente este lhe constituirá a mais salutar oficina para a autoedificação a que se não deverá furtar.
Conta-se que abnegado médium espírita, após atender a um consulente aflito que o buscara rogando ajuda, logo se desobrigou, com amor, do concurso fraterno; à saída do companheiro reconfortado, deparou com uma cédula delicadamente deixada presa a um livro na modesta mesa de trabalhos mediúnicos.
Logo identificando a procedência do dinheiro, algo desconcertado, porém consciente dos seus deveres, saiu a correr, chamando pelo outro e dizendo:
— Aqui está sua nota. Você a esqueceu sobre a nossa mesa.
— Aqui está sua nota. Você a esqueceu sobre a nossa mesa.
— Aceite-a, por favor — respondeu o conhecido gentilmente —, Eu sei que o senhor tem muitos problemas... Pelo menos, utilize-a junto à família...
— Muito obrigado! Deus sabe das nossas dificuldades, que solucionará quando oportuno. Depois, a família está experimentando as necessidades de que precisa para evoluir.
— Mas, eu insisto.
— Não, homem. Por Deus, não derrube num minuto o que venho construindo há quase trinta anos...
Após o primeiro deslize, o chamado momento de fraqueza, surgem outros e cria-se um hábito infeliz: a usança da simonia. Por fim, têm preferência os que podem melhor pagar em detrimento dos “filhos do Calvário”, aos quais devemos carinho e solidariedade, transitem eles em qualquer degrau da fortuna ou da miséria, do poder ou da escravidão, sem escolher outro que não seja o sinal do sofrimento.
O exercício incorreto das funções genésicas, sua prática indevida, quaisquer deslizes da sexualidade se transformam em martírio futuro, de que ninguém se eximirá no cômputo das consequências. O médium, por excelência, deve transfundir suas forças genésicas e, a critério de sua vontade disciplinada, transformá-las em energias vigorosas para o equilíbrio do espírito e maior potencialidade medianímica. Obviamente, todo abuso moral e físico produz desgaste correspondente. Qualquer desgaste conduz ao exaurimento, não apenas das energias específicas, sendo de toda a engrenagem física e psíquica do homem.
Nesse capítulo, o mau uso e a exorbitância impedem viciações danosas, gerando vinculações infelizes entre os consórcios encarnados, a expensas, também, de comensais desencarnados, que se instalam em processos de sórdida vampirização, exaurindo suas vítimas docilmente manipuladas.
O matrimônio nobre, revestido dos ascendentes sagrados do respeito e da dignidade, é santuário de transfusão de hormônios, de forças restauradoras em que se harmonizam os que se amam, restabelecendo e mantendo compromissos superiores, mediante os quais se alçam em júbilo às províncias da felicidade.
O deslumbramento que a mediunidade enseja aos incautos e desconhecedores da Doutrina leva-os a desequilíbrios da emotividade, em relação aos seus portadores. Surgem, então, nesse período, as justificativas injustificáveis quanto a reencontros espirituais, a esperas afetivas que se tornam realidade, a afinidades poderosas, produzindo acumpliciamentos de difícil e demorada reparação dos danos morais.
Imprescindível vigiar “as nascentes do coração”, conforme a linguagem evangélica, a fim de não se iludir. Se alguém chegar posteriormente aos compromissos já firmados, é porque o sábio impositivo das leis assim determinou como corrigenda e reeducação dos faltosos.
Em se tratando de afeições, afinidades espirituais, não há por que as transladar para uniões perturbadoras, usanças sexuais perniciosas, embora, a princípio, encantadoras, que sempre resultam em inevitável frustração imediata e tardia amargura... O verdadeiro amor, o que não se frui, permanece intocado, superior, ascendendo em grandeza e crescendo em profundidade.
O médium não pode esquecer que amar, sim, porém, comprometer-se moralmente pelo ditame do sexo, não, nunca! Há muitas almas sob severas disciplinas, na Terra, que vivem em revolta, procurando a água pura da afeição e, ao encontrá-la, tisnam-na; incontinenti, tornando-a lodo. Diante desses corações, o médium deve proceder com atitude de amizade, preservando-se interiormente, com afeição fraternal e reserva moral, a fim de não se permitir leviandades, que são sempre prejudiciais.
A abstinência sexual dentro dos padrões éticos do Evangelho constrói harmonia no espírito e no corpo. Outros escolhos, diversos, que atentam contra o apostolado mediúnico, encontram-se e podem ser facilmente identificados por quem deseja ascensão moral e realização superior.
Não examinamos aqui, com mais detalhes, os chamados vícios sociais, quais o tabagismo, o alcoolismo, a toxicomania; os excessos da mesa, mediante a ingestão abusiva de animais ceifados, condimentados e acepipes extravagantes; as negligências mentais e morais, como as conversações doentias, deprimentes e obscenas, o cultivo dos pensamentos vulgares, o acalento de tendências negativas, a inveja, o ciúme, a queixa, o azedume, a maledicência, o reproche...
A ira, o ódio, a cólera, pela sua perigosa perturbação, não necessitam, sequer, de qualquer comentário, porquanto todos lhes conhecemos a gravidade; e o médium muito especialmente não os pode ignorar, dando margem à inclinação dessa natureza, muito menos à sua instalação nefasta...
O concurso da prece e da leitura salutar, que inspiram ideias e pensamentos ditosos, são anticorpos valiosos contra a virulência desses escolhos na santificação da mediunidade, enquanto a vigilância, por meio do trabalho paulatino e sistemático, ordeiro e constante, a ação caridosa e os contributos da solidariedade como da tolerância armam-no para a feliz execução dos serviços espirituais.
“Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-ᔹ afirmou Jesus, concitando-nos a solicitar ajuda à Misericórdia divina, batendo às portas do bem com tranquilidade, buscando o Senhor por todos os dias da vida e recebendo as respostas dos Céus em paz com felicidade, hoje ou mais tarde, consoante a insistência com que as perseguirmos.
Notas do autor espiritual:
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 40. ed. FEB. Segunda Parte, cap. XXIII, “Da obsessão”, item 237.
- Lucas, 11:9.
Livro: Tramas do Destino - Manoel Philomeno de Miranda / Divaldo Franco
Cap 17 - Escolhos à mediunidade
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